segunda-feira, 10 de março de 2008

Grafiteiro Marcelo "Ment" fala sobre sua carreira e o mundo da arte

André Pernambuco - Como você começou e há quanto tempo você faz grafite?
Ment - Comecei a pintar nas ruas em 1998,mas já me identificava com a pixação desde muito novo,sempre desenhei desde criança e andava observando os prédios,viadutos e onde mais tivesse escritas e figuras.

André Pernambuco - Ainda existe muito preconceito? Como você encara essa situãção?
Ment - O preconceito sempre vai existir,mas encaro da melhor forma possível.Podemos acompanhar cada vez mais o movimento inverso,universitários,artistas de formação acadêmica, designers etc, cada vez mais buscam fazer parte do mundo do graffiti, seja pesquisando, usando como referências para seus trabalhos, copiando, ou até mesmo indo para as ruas pintar. O preconceito sempre vai existir, no meu caso busco estudar, fazer meu trabalho, pintar na rua sempre e evoluir, não é porque não fiz uma faculdade que sou pior ou melhor que um outro artista ou grafiteiro, ou qualquer tipo de pessoa.

André Pernambuco - Os grafiteiros sempre foram famosos por utilizarem de espaços públicos para produzirem seus desenhos. Até que ponto o grafiteiro pode utilizar desse espaço? Existe alguma código de ética com relação a isso?
Ment - Eu procuro pintar em espaços degradados,interagir com eles da melhor maneira possível, de um modo geral a maioria dos escritores de graffiti não pintam em cima de obras de outros artistas e de espaços tombados por exemplo, mas isso não chega a ser uma regra, e sim pelo respeito de cada indivíduo ou grupo que representa.

André Pernambuco - Em que outros lugares você já expôs seu trabalho?
Ment - Em eventos e encontros em comunidades, em espaços como o Circo Voador, Fundição Progresso, Morro da Urca. Exposição de lançamento do livro "Graffiti world" em Amsterdam, Holanda, Theshop gallery. Exposição Estéticas da periferia - Curadoria Gringo Cardia-Centro Cultural dos Correios-Julho-2005. Criação e execução para esculturas em exposição dos 13 anos do Grupo Cultural Afroreggae - Curadoria de Gringo Cárdia -Abril de 2006 Exposição Estéticas da periferia - Curadoria Gringo Cardia - Centro Cultural dos Correios - Julho - 2005. Na Caixa cultural no projeto "Fabulosasdesordens" que reuniu artistas do graffiti de diferentes vertentes, estados e países (
www.fabulosasdesordens.com)-Abril de 2007 Festival internacional de graffiti de Sant Just Devern, Barcelona - Abril de 2007

André Pernambuco - O grafite ainda encontra muita resistência com relação ao espaço nas galerias de arte?
Ment - Essa resistência vem diminuindo cada vez mais,existem artistas do graffiti que vem conquistando fama em todo o mundo,que vendem muito bem e é natural que as galerias abram um maior espaço.

André Pernambuco - Além do Nação Crew existem outros grupos dedicados a arte do grafite. Como você analisa esses grupos? Essa organização influencia na hora de buscar espaços para exposição?
Ment - Com o passar dos anos é natural que esses artistas amadureçam seus trabalhos e busquem novos suportes e áreas de atuação. Posso falar pelo "Nação" que é o grupo que faço parte, buscamos valorizar a cultura brasileira no geral e afirmamos isso como nossa real identidade, mesmo bebendo da fonte do graffiti americano/europeu, queremos que quando vejam uma expo, uma imagem, um graffiti na rua, as pessoas nos identifiquem como um grupo de escritores de graffiti genuinamente brasileiro.


André Pernambuco - Hoje podemos encontrar claras referências do movimento em campanhas publicitárias. A que você atribui essa tendencia?
Ment - Em todos os grandes centros urbanos o graffiti vem crescendo e penso ser natural essa invasão em campanhas publicitárias, na moda jovem, as pessoas na sua maioria se identificam com o graffiti, as cores, os traços, as letras e com certeza causam uma maior identificação com o público no geral.

André Pernambuco - Qual a importancia do grafite, socialmente falando?
Ment - No Rio de Janeiro, os jovens que vivem em favelas, no subúrbio, os de classes mais baixas em geral tem pouquíssimas referências positivas e o acesso a cultura e a educação muito restrito ou quase nenhum. O graffiti vem sendo uma ferramenta poderosa de elevar o conhecimento e o contato com a arte e positivas referências. Alguns grupos vem surgindo de escolas e projetos ligados ao graffiti, e repassando o conhecimento e experiências vividas nesses projetos.

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